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Capítulo 150 - Bifurcação dos Caminhos

  O Jóquei, alheio ao que sua oponente pensava, preparava-se para lan?ar outra ofensiva. Sua mente estava completamente focada, as m?os firmemente enroladas nas correntes das lan?as, como se pudesse resolver tudo com o mesmo ritmo que manteve até o momento. Porém, de repente, algo estranho surgiu bem à frente da sela de sua montaria.

  Parecia um estranho incha?o e crescia de maneira grotesca, como se o próprio corpo do monstro estivesse tentando expelir algo. Ele franziu a testa e piscou repetidamente, como se a vis?o fosse um truque da luz.

  — Será que te levei ao limite, Bog?

  Foi só quando a ponta negra e afiada da lan?a atravessou a pele viscosa, rasgando carne e tecido de um lado ao outro, que ele entendeu o que havia acontecido.

  O sapo sequer teve tempo de dar um último coaxar. Seu corpo balan?ou no ar, descontrolado, e ent?o caiu de lado, capotando como uma pedra descendo uma colina, esmagando tudo em seu caminho.

  O cavaleiro, antes preso à sela, foi arremessado com a violência do tombo. Seu corpo, envolto na pesada armadura, colidiu brutalmente contra uma árvore, o impacto foi suficiente para entortá-la levemente e arrancar folhas e galhos, e ele caiu ao solo com um baque, ofegante e claramente atordoado.

  Ana sorriu satisfeita e puxou a vinha que ainda estava conectada à lan?a negra, fazendo a arma voltar para sua m?o com um movimento estranho, mas funcional.

  — N?o posso negar... esse truque é excelente — disse ela, com um tom casual e divertido.

  O cavaleiro grunhiu de dor, tentando recuperar o f?lego. Seus movimentos eram lentos e desajeitados enquanto se levantava. A armadura rangia a cada esfor?o, como se cada parte protestasse contra a decis?o de continuar.

  — Vocês… — murmurou ele, enquanto se endireitava, pegando a espada bastarda que por sorte foi lan?ada ao seu lado. — Vocês s?o duas FILHAS DA PUTA! Sabem quanto tempo eu gastei criando o Bogaroth?! Vocês v?o pagar… v?o virar ra??o, suas desgra?adas! FILHAS DA PUTA!

  Come?ou ent?o a correr na dire??o de Ana, movendo-se como um touro enfurecido. Seu grito de guerra reverberava pelo campo, mas a rainha permaneceu imóvel. Uma express?o séria preencheu seus olhos, contrastando com seus muitos dentes à mostra.

  Dessa vez, se preparou n?o para uma espada incomum, mas sim com uma postura adequada para a natureza de uma lan?a. Seu agarrar simulava a forma que se segura um pique, e seu corpo se alinhou com a arma, os pés firmemente plantados no ch?o. O direito ficou um pouco mais à frente, para dar apoio e absorver o impacto, e já o esquerdo, recuado, ancorava seu equilíbrio.

  A m?o dominante estava firmemente presa ao cabo da arma, enquanto a outra, coberta pela armadura, se posicionava mais próxima ao centro, diretamente sobre a lamina, pronta para redirecionar o movimento quando necessário. Era uma postura clássica, mas implacável, projetada para o simples propósito de atravessar inimigos.

  “Matar”.

  O agarre da rainha mercenária ficou mais firme com o sussurro inesperado.

  — Agora, sim… Achei que esse cara n?o tinha chamado sua aten??o — murmurou para a arma, com um sorriso afiado sob a máscara. — Vamos acabar com isso de uma vez.

  Ela ent?o esperou, observando cada detalhe do oponente. Era um guerreiro admirável, n?o podia negar. Sua postura, mesmo sem sua montaria, era perfeita. Cada movimento dele parecia mais um prenúncio do impacto iminente. O movimento dos pés, a forma como segurava a arma, tudo.

  Quando finalmente o Jóquei estava perto o bastante, Ana agiu, movendo-se com a precis?o de uma predadora. A ponta da lan?a brilhou sob a luz do campo, e seu objetivo era claro: empalá-lo de uma vez só.

  No entanto, antes que o golpe pudesse ser desferido, algo inesperado aconteceu.

  Uma massa rosada surgiu em sua vis?o, a mesma língua que ela havia visto várias vezes durante o combate. Confusa, pensou em desviar, mas notou que desta vez se estava indo em dire??o ao cavaleiro. Tomou só um momento para enrolar-se bruscamente ao redor do homem com uma for?a esmagadora, interrompendo sua investida no último segundo.

  — O quê?! — ele gritou, sua voz carregada de surpresa e indigna??o enquanto era puxado para trás, diretamente para a grande boca de Bogaroth.

  O cavaleiro se debatia com fúria, tentando libertar-se. Sua espada bastarda, ainda em m?os, foi erguida em um arco desesperado e cravada com for?a dentro da boca do sapo. Sem sucesso, repetiu o movimento várias vezes. O a?o perfurava o interior do monstro, atravessando partes de sua carne e emergindo pelo lado de fora em estocadas brutais.

  Mas Bogaroth n?o reagia. Os ataques pareciam insignificantes para o sapo colossal, que mastigava com for?a inabalável.

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  — N?o! Eu sou um Jóquei dos Brutos de Ferro! N?o vou morrer assim!

  Sua declara??o saiu em um forte rugido, mas foi tragada pela cacofonia grotesca que preenchia o ar. Estalos horrendos ressoaram, o som de ossos sendo triturados contra os dentes massivos da criatura. Cada mordida parecia uma senten?a, acompanhada pelo ruído molhado de carne sendo dilacerada. O esfor?o do cavaleiro tornava-se cada vez mais frenético, até que, por fim, os gritos foram substituídos por um silêncio abrupto e opressor.

  — Ooooh, quem diria que ele tem dentes! — exclamou Nyx, com uma anima??o que beirava o c?mico após toda a como??o.

  A Sombra surgiu como se tivesse ensaiado sua entrada teatral à perfei??o. Sentada com uma tranquilidade desconcertante nas costas da criatura, ela dedilhava o alaúde, os dedos dan?ando despreocupadamente pelas cordas.

  Logo abaixo dela, a fuma?a negra que antes fluía diretamente para Ana, agora se dividia, convergindo também em dire??o ao Bogaroth, adentrando o animal morto através do buraco grotesco em seu peito, onde peda?os rasgados de carne e pele ainda pendiam, grosseiramente pendurados. Os olhos do sapo, antes apagados em sua morte, piscavam de forma antinatural, e apenas escurid?o preenchia suas órbitas.

  Ana foi de protagonista a espectadora em um suspiro, e, exausta, sentou-se no ch?o, observando a barda fazer carinho na cabe?a do monstro. Se n?o fosse o forte cheiro que emanava do est?mago perfurado do cadáver, a mercenária pensou que seria uma cena até que fofa.

  — Recebi a atualiza??o dos mensageiros enquanto você lutava — comentou Nyx após alguns minutos de descanso. — Parece que está tudo uma bagun?a.

  — Quando n?o está? — respondeu Ana com um leve riso cansado, balan?ando a cabe?a. — O que te disseram?

  Nyx ergueu os olhos do sapo para encará-la, um brilho levemente divertido em seu olhar, mesmo enquanto falava algo sério. A melodia suave que tocava contrastava com o tom tenso da situa??o.

  — Perdemos contato com as dríades e a maior parte do exército inimigo se reuniu na ala oeste. Est?o em um aparente empate com a divis?o Bestial. Parece que pediram refor?os por lá.

  Ana franziu as sobrancelhas, sua express?o endurecendo.

  — Carapicuíba está lá também, certo?

  — Pelo que me lembro, sim. Mas os detalhes n?o foram muito claros. Parece que a comunica??o n?o está t?o confiável ultimamente.

  Ana soltou um longo suspiro, inclinando-se para frente antes de se levantar. Seus movimentos eram lentos, como se a batalha tivesse drenado mais dela do que estava disposta a admitir. Ela pegou a lan?a negra ao seu lado, girando-a com as duas m?os em um gesto automático antes de prendê-la improvisadamente na armadura.

  — Certo. Ent?o nossa ca?ada a outros Jóqueis vai ter que esperar um pouco. Vamos ver se conseguimos ajudar esses caras.

  — Na verdade… só eu vou.

  Ana virou-se rapidamente, encarando Nyx com uma mistura de surpresa e irrita??o.

  — Só você? Por quê?

  O sorriso da barda cresceu levemente, e sua melodia diminuiu até quase parar.

  — No meio dos avisos do dispositivo, Miguel repassou uma mensagem especial. A Colecionadora parece estar se aproveitando da guerra para fu?ar pelo castelo.

  Ana ficou imóvel por um instante, processando as palavras. Ent?o, lentamente, tirou a máscara de seu rosto, revelando um olhar exasperado enquanto massageava as têmporas com as pontas dos dedos.

  — Eu acabei de sair de lá… — murmurou ela, com um tom que oscilava entre frustra??o e resigna??o. — Será que ela n?o podia ter aparecido antes?

  — Talvez ela tenha esperado exatamente por isso.

  A rainha bufou, cruzando os bra?os e olhando para o horizonte. Seu semblante sério refletia a complexidade da situa??o. Após alguns segundos de silêncio, ela voltou a falar, sua voz mais firme.

  — Certo, eu volto para o castelo. Mas você, Nyx…

  — N?o se preocupe. Prometo n?o morrer — interrompeu a barda com um sorriso travesso, enquanto ajustava a postura em cima da criatura.

  Ela fez um gesto exagerado para se arrumar na sela, e aumentou sutilmente a intensidade da melodia. A fuma?a negra que ainda serpenteava ao redor da criatura pulsou levemente, como se reagisse ao som. Bogaroth, até ent?o inerte, ergueu-se lentamente, seus movimentos mais firmes e controlados do que antes. O sapo gigantesco flexionou as patas traseiras, e com um salto poderoso, o monstro come?ou a se mover pelo campo de batalha.

  — Se cuide, Ana! E mande um oi pra essa tal Colecionadora! — gritou a Sombra, rindo enquanto acenava despreocupadamente, desaparecendo no horizonte.

  Ana revirou os olhos, e ficou parada por um instante, sorrindo. Por fim, prendeu novamente o cabelo, que agora era um grande emaranhado de fios. Seus dedos tocaram a borda da máscara que descansava em sua m?o, e ela a ergueu lentamente, colocando-a novamente sobre o rosto. Sentiu o peso familiar retornar, tanto físico quanto simbólico, um lembrete de quem ela precisava ser, independentemente do caos ao redor.

  O vento soprou, fazendo a capa rasgada agitar-se enquanto ela caminhava. Ana desaparecia aos poucos no cenário devastado, como uma sombra que se mistura ao entardecer, uma figura solitária avan?ando para o próximo desafio.

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