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Capítulo 157 - Teia Escarlate

  Do outro lado do campo, Leandro corria com toda a for?a que seu corpo permitia. Seu cora??o batia como tambores de guerra, e sua mente trabalhava freneticamente. Ele sabia que a música de Nyx, a espinha dorsal da batalha, logo iria parar uma vez mais. Cada segundo contava.

  à medida que avan?ava, os sons da guerra às suas costas pareciam se fundir em uma única onda. Três mil vozes, vivas e mortas, de puros e corrompidos, gritavam como uma única entidade, seu clamor ressoando pelo campo de batalha. Era uma sinfonia grotesca de esperan?a e desespero.

  à sua frente, as flechas disparadas da mata eram como sombras mortais, cada uma encontrando seu alvo com precis?o. Mesmo à distancia, ele podia sentir a eficiência dos arqueiros que causavam o caos entre suas tropas.

  Foi ent?o que ele o viu.

  Na clareira, em uma postura quase displicente, um único arqueiro destacava-se. Estava relaxado, alheio ao caos ao seu redor, como se estivesse em um mundo próprio. Parecia alguém apreciando as nuvens no céu, mas seus movimentos metódicos desmentiram essa ilus?o. Ele n?o olhava ao redor. Apenas disparava, pegava outra flecha e disparava novamente.

  As hastes pontiagudas disponíveis ao seu lado diminuíram rapidamente, até que, finalmente, sua m?o tocou o solo sem encontrar nenhuma outra.

  — Onde est?o as novas flechas? Já mandei agilizarem, porra! — gritou o arqueiro, sua voz grave quebrando a serenidade que crescia no ambiente.

  Com os gritos, veio o som de folhas farfalhando, anunciando passos apressados. Quatro escudeiros emergiram da mata, carregando dois grandes caixotes em conjunto. Seus passos eram rápidos, e seus rostos, concentrados, enquanto lutavam para n?o trope?ar em meio ao terreno irregular.

  Leandro manteve-se estático, observando atentamente. Um dos escudeiros, um garoto que n?o devia ter mais de 15 anos, liderava o grupo. Ele parecia completamente focado em sua tarefa, até que olhou para o horizonte e seus olhos acidentalmente encontraram o do general escamoso.

  A presen?a inesperada o fez congelar. Seus olhos arregalaram-se de medo e surpresa ao encarar a figura imponente parada a poucos metros de distancia. A pele reluzente parecia refletir a luz do sol como uma armadura viva, seu olhar era frio e calculista e sua lan?a estava pronta, apontada em dire??o ao grupo. O escudeiro sentiu o peso daquele olhar e hesitou, os pés vacilando momentaneamente.

  "Sem flechas, ele está fora do jogo.”

  Leandro sabia que atacar diretamente o arqueiro seria um risco alto, especialmente com os escudeiros protegendo o transporte de flechas. Mas também sabia que, sem suprimentos, ele n?o passava de um homem indefeso.

  Com uma inspira??o profunda, acompanhando a rea??o exagerada do garoto, ele come?ou a se mover, sua cauda oscilando atrás de si enquanto ajustava a arma em suas m?os. Sabia o que precisava fazer, n?o havia melhor momento.

  A sua frente, em um movimento abrupto, o garoto, tomado pelo panico, acabou por perder o equilíbrio. A caixa de madeira que ele carregava estourou ao atingir o ch?o, espalhando flechas por todos os lados, algumas rachando ao meio, outras mergulhando na terra úmida.

  — Idiota! Idiota!

  Matheus, o líder da Guilda dos Ventos Livres, avan?ou com passos firmes e furiosos. Antes que o garoto pudesse se levantar, recebeu um chute no flanco que o derrubou novamente.

  — Já mandei agilizarem isso! N?o conseguem nem carregar uma maldita caixa direito!

  O jovem gemia de dor no ch?o, mal conseguindo se mover. Mesmo assim, reuniu for?as para apontar com dificuldade na dire??o do invasor. Foi o suficiente para que os outros escudeiros olhassem todos ao mesmo tempo, notando o inimigo que avan?ava a passos largos.

  A clareira ficou em silêncio por um instante, enquanto todos processavam a vis?o inesperada. Matheus, no entanto, n?o demonstrou medo. Ele estreitou os olhos, avaliando o oponente com uma express?o de curiosidade maliciosa.

  — Recuem — vociferou finalmente, sua voz saindo firme e autoritária. — Eu cuido da aberra??o.

  Sem sequer olhar para trás, os escudeiros obedeceram, deixando o líder e o general sozinhos na clareira.

  Vendo o arqueiro rapidamente pegar uma das flechas pelo ch?o, Leandro desacelerou, preparando-se para um possível desvio. Os dois líderes se encararam por alguns instantes, como se tentassem medir a for?a um do outro apenas com olhares. O ar ao redor parecia vibrar com a tens?o crescente.

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  O homem lagarto, já preparado, ergueu sua lan?a e ajustou sua postura, os pés firmes no ch?o e o corpo inclinado para a frente, pronto para disparar em uma nova investida assim que a corda do arco fosse solta.

  Matheus, por sua vez, acompanhou o movimento, puxando lentamente a flecha para o ataque. Porém, para a surpresa do general, as m?os, antes rápidas e experientes, agora tremiam tanto que a flecha escorregou de seus dedos.

  — N?o… N?o! — sibilou o arqueiro, enquanto suas m?os falhavam em mais uma tentativa de ajustar o encaixe.

  O suor escorria por sua testa, e seus olhos esbugalhados denunciavam o panico que crescia dentro dele. Foi ent?o que, com o cora??o disparado, ele derrubou n?o apenas a flecha, mas também o arco.

  — Eu me rendo!

  O grito surgiu naturalmente assim que viu Leandro, sem esperar nem mesmo um segundo, voltar a correr em sua dire??o. Ergueu sem hesitar as m?os acima da cabe?a, encarando a massa de músculos como se suplicasse.

  — Por favor! Eu só quero ir embora!

  Parecia genuinamente desesperado, t?o patético que qualquer outro poderia sentir pena. Ele n?o era mais o líder confiante de antes. Parecia quebrado, incapaz de reagir.

  "N?o é hora para piedade."

  Apesar de n?o gostar da situa??o, o general n?o parou. Ele n?o era apenas Leandro, o guerreiro. Ele era parte da esperan?a de cada soldado que lutava ao seu lado. Ele sabia o estrago que aquele homem era capaz de causar, mas n?o era apenas sobre vingan?a. Era sobre proteger algo maior que si mesmo.

  — Realmente n?o vai me deixar ir? — dessa vez, o grito se tornou um sussurro.

  Matheus abaixou o rosto lentamente, virando-se para o ch?o como se estivesse derrotado. Mas, quando o levantou novamente, um sorriso gélido curvou seus lábios.

  — Espero que lembre que eu tentei evitar essa luta, aberra??o imunda.

  As palavras atingiram Leandro como uma lamina fria. Seu instinto berrava que algo estava errado, mas a velocidade com que a situa??o mudava o pegou de surpresa. Suas pernas ainda estavam impulsionando-o para frente, e sua lan?a já estava preparada para o golpe.

  Só precisava terminar com aquilo de uma vez.

  Mas agora era tarde demais.

  O toque estranho contra seu peito chegou de forma súbita, como o beijo frio de algo que n?o deveria estar ali. Por um instante, ele n?o entendeu. A dor veio logo depois, uma onda que queimava e pulsava, espalhando-se como fogo por suas costelas.

  Seus olhos baixaram, e ele viu o fio. N?o, viu o sangue; o fio era quase invisível, exceto pela trilha carmesim que o marcava. Era uma linha fina, t?o afiada que parecia cortar n?o apenas carne, mas também a alma. Sua respira??o ficou presa na garganta enquanto tentava processar o que acontecia. Ele n?o havia visto, n?o havia sentido até que fosse tarde demais.

  Seu corpo ainda impulsionava-o para frente com a for?a de sua corrida, e o fio, tenso entre duas árvores, deslizou contra suas escamas como uma navalha contra pedra. O som sutil do atrito foi acompanhado por um estalo úmido, quando ele come?ou a penetrar mais fundo. O general sentiu as fibras musculares cederem, o calor de seu sangue escorrendo pelas laterais.

  "Se eu fosse menor, já estaria morto."

  Essa ideia o atingiu como um soco. Estava posicionado exatamente na altura do seu peito, mas teria decapitado qualquer homem de estatura comum. Por sorte, para ele, que era uma muralha de músculos e escamas, uma resistência foi wncontrada em seus duros ossos.

  Tentou recuar, mas o movimento apenas piorou as coisas. Outro fio, este na altura da cintura, cortou a lateral de sua armadura natural, atravessando como se ela fosse feita de papel. O choque o fez perder o equilíbrio momentaneamente, e ao tentar se estabilizar, seu tornozelo esquerdo encontrou mais uma das linhas, que deslizou até os tend?es como uma serpente trai?oeira.

  — Maldi??o... — murmurou, mais para si do que para o mundo ao seu redor.

  Seu bra?o esquerdo foi o próximo a sofrer, o movimento involuntário de erguer a lan?a atingindo outra armadilha. Dessa vez, ele sentiu a carne sendo cortada antes de ver o sangue. A dor era excruciante, mas ele n?o tinha tempo para gritar ou hesitar.

  Estava preso em um emaranhado. Cada fio parecia ter sido posicionado estrategicamente, como se o campo fosse construído por um arquiteto insano. N?o eram meras armadilhas; eram engenhocas mortais, criadas para capturar e retalhar qualquer um que ousasse entrar.

  Sua vis?o come?ou a ficar turva enquanto o sangue manchava o ch?o ao seu redor. Com um movimento desesperado, passou a lan?a para a m?o livre, ajustando-a para um arremesso. Analisou rapidamente o ponto onde o fio que havia penetrado seu peito estava ancorado e lan?ou a arma com toda a concentra??o que lhe restava.

  A lan?a cortou o ar, atingindo pesadamente o dispositivo de ferro preso à árvore. O impacto foi suficiente para quebrar a ancora, soltando-o de sua amarra mais perigosa.

  Assim, ele caiu de joelhos imediatamente, mas os outros fios ainda estavam lá, e a gravidade trouxe uma nova explos?o carmesim.

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