Sangue jorrou em um arco violento, acompanhado por duros peda?os de carne, pintando as folhas ao seu redor de vermelho. Apesar disso, as linhas ainda permaneciam dentro de seu corpo, tornando cada inspira??o uma luta contra a agonia. Sua vis?o escurecia, mas sua mente se recusava a ceder. Leandro sabia que se parasse mesmo por um instante, seria o fim.
Ajoelhado e ferido além de seus limites, ergueu os olhos com esfor?o. Sua fei??o, no entanto, ainda carregava a for?a de um líder.
— Covarde… — rosnou, encarando Matheus com notável desprezo.
— Porque eu n?o me jogo na frente de espadas ou lan?as como vocês? N?o é covardia. é inteligência. é sobrevivência.
— Isso é medo. Você é só mais um rato, n?o tem honra...
Matheus, parado a poucos passos de distancia, manteve o sorriso em seu rosto. Ele inclinou levemente a cabe?a, como se estivesse ponderando as palavras de Leandro, antes de rir, uma risada seca e repulsiva.
— Talvez eu seja mesmo — respondeu, dando de ombros com sua voz pingando sarcasmo. — Honra te mantém mais vivo do que fios de monofilamento Kevlar, criatura burra? Honra protege seus homens? Honra vence guerras? Sua arrogancia é t?o pesada quanto suas escamas.
— Honra separa guerreiros de seres como você!
Leandro tentou se erguer, mas a carne dilacerada n?o tinha for?a suficiente. Isso só aumentava sua raiva, a qual quase transcendia a sensa??o excruciante. Vendo a c?mica rea??o, o líder da guilda inimiga deu alguns passos lentos e deliberados em dire??o ao general ferido.
— N?o sou um guerreiro. A poucos anos trabalhava na porra de uma empreiteira, algo t?o abstrato é lixo para mim! Além disso, n?o me arrisco à toa, e nem às for?as de elite da minha guilda. Só ajo quando tenho certeza do resultado. é por isso que estou vivo, enquanto você… bem, você já está morto, mesmo que seu corpo ainda n?o tenha percebido.
Ele parou, o sorriso se alargando de maneira quase doentia.
— Para sua sorte, corrompido, nada disso importa mais — Matheus ergueu a m?o, seus dedos se movendo em um padr?o leve, como se saboreasse o momento. — Arqueiros!
Leandro ouviu o som de cordas sendo puxadas, o ranger sutil de flechas alinhando-se em arcos, e soube que era o fim. Ele tentou mover o bra?o para alcan?ar a lan?a caída pouco à frente, mas o membro n?o o obedeceu.
Sem mais o que fazer, abaixou a cabe?a, fechando os olhos por um breve momento. Um sorriso triste cruzou suas duras fei??es.
"N?o era assim que deveria terminar… N?o nas m?os de um covarde."
A única coisa que o confortava era que, ao menos, sabia que cada segundo que ganhara tinha sido pela sobrevivência de seus homens. Antes que pudesse concluir seus pensamentos, o som da saraivada cortou o ar.
As primeiras flechas encontraram seu corpo simultaneamente, como um abra?o sombrio vindo de todos os lados. Elas n?o tinham inten??o de matar instantaneamente. Ao invés disso, rasgaram violentamente a carne, cravando-se profundamente em suas escamas. Seus bra?os, seu torso, suas pernas — cada parte de seu corpo foi atingida, uma dor lancinante atravessando-o como uma onda infinita.
E ent?o Matheus se aproximou, caminhando casualmente, como se todo o tempo do mundo estivesse em suas m?os. Chutou-o com a ponta da bota, sem muita cerim?nia, e se abaixou próximo a seu rosto, como se estivesse avaliando a obra final de sua crueldade.
— Sabe o que gosto nas flechas? Elas n?o precisam se preocupar com discursos ou bravatas. Elas fazem o trabalho. Silenciosas, precisas… eficazes. Diferente de você. Todo esse discurso sobre honra e tal, e no fim n?o pode fazer porra nenhuma.
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Leandro tentou responder, mas vomitou sangue em seu lugar. Quando conseguiu puxar ar e estabilizar a mente novamente, chegou apenas a um pequeno murmúrio.
— Se é isso que você precisa acreditar…
— N?o preciso acreditar em nada. Só preciso acertar o alvo.
Com certo prazer em seu olhar, disparou.
A afiada flecha atravessou o pesco?o do homem lagarto, interrompendo qualquer som adicional que pudesse ter saído de sua garganta. Assim, Leandro n?o gritou, apenas cedeu, tombando secamente para o lado. Seus olhos permaneceram abertos, agora fixos no horizonte onde a luta ainda ocorria, como se ainda estivessem protegendo seu exército. O general já n?o respirava.
— Todo esse alarde por isso… Bem, estou feliz por ter sido mais fácil do que imaginei — por fim, ergueu-se com indiferen?a, soltando um suspiro teatral enquanto limpava a ponta da bota na terra, a sujeira vermelha desaparecendo em meio à poeira, como se estivesse apagando o último tra?o do homem escamoso. Seus olhos vagaram brevemente pela clareira, procurando algo mais digno de sua aten??o. — árvore número três, como anda a situa??o da batalha?
Houve um farfalhar suave após sua pergunta, quase imperceptível, e de entre as folhas densas surgiu uma figura magra e ágil. O homem desceu em silêncio absoluto, seus movimentos precisos e calculados, como um predador que n?o quer alertar a presa. Seu rosto estava encoberto por um capuz desbotado, mas seus olhos brilhavam com uma frieza meticulosa.
— Ainda está equilibrado, chefe — respondeu ele, com uma voz baixa, calma, quase desinteressada. — Mas a velocidade das mortes aumentou.
Matheus franziu o rosto, sua express?o demonstrando clara insatisfa??o.
— Quantidade, homem. Quantidade. N?o tenho paciência para meias palavras.
O arqueiro hesitou por um instante, como se estivesse relutante em responder, antes de ajeitar o arco às costas e se aproximar um passo.
— Talvez uns 700 de cada lado, n?o mais que isso… mas também n?o muito menos.
Matheus deixou escapar um sorriso, desta vez mais largo, como se saboreasse a informa??o.
— Setecentos… — repetiu ele, quase sussurrando, enquanto dava alguns passos pelo mato manchado de sangue. — ótimo, ótimo. é um número bonito. O suficiente para enfraquecer os dois lados, mas n?o tanto que percam a energia para continuar lutando.
Ele parou ao lado do corpo de Leandro, cruzando os bra?os enquanto lan?ava um último olhar desinteressado ao cadáver ensanguentado. N?o havia respeito em seus olhos, apenas a indiferen?a fria de alguém que n?o via valor na vida que havia tomado.
— Continue observando. E lembre-se de ficar de olho nos Sombrios da Rebeca. Assim que eles caírem, teremos a divers?o verdadeira.
O arqueiro assentiu, mas n?o disse nada. Ele sabia que Matheus preferia dar ordens do que ouvir respostas sem necessidade.
— Agora, vamos achar um lugar melhor para os verdadeiros heróis dessa guerra entrarem em cena — anunciou o líder, erguendo a voz o suficiente para que os homens escondidos nas árvores ao redor pudessem ouvi-lo. O tom triunfante era inconfundível, deixando claro que se via como o único vencedor dessa batalha.
Assim, deu meia-volta e come?ou a caminhar em dire??o à floresta, seus passos lentos e deliberados, como se o caos que rugia ao longe fosse apenas um detalhe insignificante. Atrás dele, seus soldados come?aram a se mover, descendo pelos troncos e também desaparecendo em dire??o ao próximo ponto estratégico.
A cena foi tomada pelo silêncio, um silêncio pesado e opressivo que contrastava com tudo o que havia acontecido. Era como um altar profano, e o vento balan?ava as folhas como se lamentasse a perda de um gigante. O sangue encharcava o ch?o, e o corpo de Leandro parecia repousar como uma estátua tombada, imortalizado em sua última batalha.
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