Vinte e oito.
Vinte e nove.
Trinta.
Droga, meu bra?o já tá doendo. Tenho que lembrar de segurar a lamina com menos for?a. Esse vício idiota vai me ferrar no longo prazo.
Ai ai...
Vai ser t?o caro treinar gente nova. T?o caro...
Trinta e um.
Trinta e dois.
Merda de corrompidos. Esse sangue fede. Parece que está impregnando até o meu cabelo. N?o importa quantos banhos eu tome, tenho certeza que essa sensa??o nunca vai desaparecer.
Trinta e três.
Trinta e quatro.
Aah… N?o vai dar mais. N?o fui feita pra isso, meu corpo tá me implorando para parar. Será que essas casas est?o realmente vazias? Só cinco minutos de descanso já seria t?o bom…
Só espero que aquele cara n?o volte. é um azar da porra que alguém assim exista por aqui. Enfim, é só um animal. N?o, eu n?o sou uma pessoa que tem medo fácil, mas lutar com ele seria… Inconveniente.
Respira, Rebeca. Respira.
Mais alguns. Mais alguns e isso acaba. é uma mentira, eu sei. Isso nunca acaba. Quando esses morrerem, v?o ter outras pessoas pra derrubar em algum outro lugar qualquer.
E quando esses também morrerem, vamos come?ar a brigar internamente, até alguém finalmente dominar aquela merda de cidade. N?o aconteceu ainda, mas eu sei que vai.
é um mundo de merda.
— Agrupem!
De onde veio esse grito? Soldados mal treinados do caralho. é sempre assim. Eles gritam mais do que lutam. Essa voz rouca… Irritante. Parece que está pedindo para ser cortada. Ah, que gente cansativa.
Trinta e cinco.
Trinta e seis.
Eu odeio o som do metal quando ele corta carne. Sempre odiei. é um som molhado, um som que gruda na mente como o cheiro de sangue gruda na pele.
Trinta e sete.
Esse último morreu de forma engra?ada. Nem percebeu que estava morto até cair de joelhos, os bra?os balan?ando s?o t?o bobos. Ah, mas aquele ali caído já n?o é t?o engra?ado.
— Levanta. Se n?o pode lutar, sai do caminho.
Ele murmurou algo parecido com "obrigado"? Espero que n?o volte vivo pra casa, que atitudezinha de merda.
Ah, tanto faz.
Trinta e sete. N?o… Trinta e… oito?
Merda, esqueci. Foi culpa daquele maldito, quebrou totalmente meu foco. Espero realmente que ele morra no caminho de volta.
O sangue na minha m?o tá secando. Nojento.
Mas que diabos é isso?
Uma sombra? N?o, n?o pode ser.
Meus olhos mal conseguem acreditar no que veem. Aquela figura esguia, aquele maldito ar de pretens?o. Uma sombra, com toda certeza. A única coisa mais nojenta que esses corrompidos.
— Ent?o é daí que vem a música!
Tudo faz sentido agora. Esse maldito cheiro podre no ar, esse ruído chato. Tudo vem dela. é minha chance de acabar com essa palha?ada.
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N?o sou arrogante, n?o vou ir de frente com uma sombra, mas… e se eu conseguir pelo menos quebrar aquele… Bem, isso é um viol?o? N?o, é menor. Um violino?
Bah, n?o importa. Parece ridículo, só preciso de um único golpe para acabar com isso. Suponho que assim os mortos v?o parar, e a moral desses idiotas também.
— N?o é t?o longe. Vai dar certo. Se eu me mover rápido o suficiente…
Concentra??o. Concentra??o.
Refletir raios de luz.
Sumir.
Um passo.
Dois passos.
Três passos.
CLANG!
— Mas o que…
Que dor, que dor, que dor! Merda, o céu tá balan?ando. Eu vou cair! Merda!
— N?o me assusta assim!
CLANG!
O que essa vadia ta fazendo! Como ela sabia que eu estava aqui?!
— N?o.
CLANG!
— Me.
CLANG!
— Assusta!
CLANG!
Rápida. Forte. Tenho certeza que perdi alguns dentes. Isso se n?o tiver alguns ossos quebrados
N?o faz sentido, alguma vez já fui acertada assim? é um estalo seco, pesado, mas o instrumento ainda tá intacto. Do que isso é feito? Quem faz esse tipo de coisa?
é humilhante.
CLANG!
Minha vis?o tá ficando preta. Onde tá minha arma? Ah, tanto faz, ela tá vindo de novo.
Já era… né? Pelo jeito n?o… Ela parou. Parece estar me estudando. Nojento.
— Você é t?o bonita!
Minha mente mal consegue acompanhar. Bonita? Ela acabou de me espancar com um maldito instrumento musical, e agora está falando de beleza?
— T?o fofa!
A express?o dela é de fascínio genuíno. Inconscientemente quase me fez rir. Tenho raiva de mim mesma às vezes.
— O sangue se destaca tanto com o seu cabelo! é quase poético, sabe?
— Po… Poéti… co?
Minha voz saiu t?o fraca que nem mesmo eu ouvi, duvido que ela tenha conseguido. Para minha desgra?a, tá chegando mais perto. N?o quero apanhar de novo…
Ué, n?ao tinha reparado, mas ela parou de tocar!
No fundo, ou?o os corpos caindo. Aqueles mortos malditos que estavam de pé agora est?o voltando para o ch?o, inertes como deveriam estar desde o come?o. Mas isso é apenas um borr?o na minha percep??o.
Se eu conseguisse me levantar, poderia sair daqui. Mas pelo angulo estranho que meu bra?o está provavelmente vou ir de cara na terra se tentar. Deve estar quebrado…
— Ai…
é, provavelmente quebrado. Ou mais que isso, já que nem se mexeu quando tentei. Quer saber? vou só descansar. Fechar meus olhos por um instante, n?o vale mais sofrer pensando nisso. O que tiver que acontecer, vai acontecer.
— AAAAAAAH!
O grito escapou antes que eu conseguisse segurar. Ela enfiou o dedo dentro da minha ferida?!
— Que merda você tá fazendo?! Louca!
Minha voz rouca n?o ajudou, mas acredite, estou realmente com raiva. Ver ela levantando as m?os, se fazendo de inocente, me deixa mais puta ainda. Posso ouvir ela rindo. é mais doce do que deveria pra um monstro desses. Leve e despretensioso. T?o estranho.
— Desculpa, achei que você tinha morrido. Eu gosto de ter certeza.
Por que ela está falando comigo? O que ela quer? Tá me dando nos nervos!
— Se vai… Me matar… Faz isso de uma vez!
Minha mandíbula dói. Quero gritar, mas minha garganta está seca demais, mesmo com o sangue que sobe por ela.
Mas antes que eu possa continuar remoendo minha raiva, algo prende minha aten??o. Algo no céu.
Vai chover justo agora?
N?o. Isso n?o é chuva. Esses pontos brilham demais, se movem de forma organizada… Ah, flechas. Finalmente ele se mostrou!
Mas s?o muitas. Pontos demais. Cem flechas lan?adas t?o alto assim… é um risco. Que porra ele tá fazendo?
N?o consigo virar a cabe?a… Pra onde elas est?o indo?
Ahn? Mais… Pontos? Outro grupo de cem?
Isso é um completo exagero. Meu cora??o come?a a bater mais rápido, e n?o é pela dor. Espero que eu n?o esteja certa…
Um.
Dois.
Três.
Quatro.
Cinco.
Contei por reflexo, outro vício que tenho que perder. Mas n?o deveria ter feito isso. Em apenas cinco segundos, outra rajada veio, ainda mais absurda. N?o acredito no que estou vendo.
Meu est?mago ta revirando. Tenho certeza que vou vomitar.
é insano. Isso n?o é estratégia…
E lá vem mais cem. Droga, droga…
Isso é um massacre.
é como se o céu estivesse desabando em pontas de a?o. Eu já posso ouvir o som delas chegando.
— Esse maldito…
Minha voz mal sai, mas minha mente berra..
— Matheus, seu grande filho da puta…
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